26 outubro 2008

Jogos Divertidos

Violência Gratuita - Funny Games 2007, como você preferir -, é uma refilmagem de um filme austríaco de mesmo nome realizada em 1997. O diretor e roteirista da empreitada Michael Haneke, retorna ao filme para mostrar que apesar de uma década ter se passado, o tema em questão está mais atual do que nunca: Ou seja a violência*, ou melhor a banalização desta. O enredo na verdade e bem simples e ate te faria lembrar de ouras historias onde psicopatas sádicos torturam alguém especifico ou uma família. A grande diferença está na abordagem que o diretor deu ao filme.




Na trama, um casal rico em início das férias com seu filho em uma casa à beira de um lago. Enquanto o marido(Tim Roth) e o filho(Devon Gearhart) cuidam do barco, a esposa(Naomi Watts) recebe a visita de um educado vizinho(Brady Corbet) que pede ovos emprestados. Ele e outro rapaz (Michael Pitt), que chega logo depois, não irão mais deixar a casa. A partir dai à família e mantida prisioneira dos dois rapazes, Paul e Peter, que iniciam seus jogos de sadismo e horror sempre intitulados com frases engraçadas ou do universo infantil. - Os funny Gammes do titulo original -.


Toda a violência aqui é sugerida, em Off screen, o que aumenta ainda mais a sensação de agonia e desespero, a nudez também é sugerida, - adeus tarados de plantão, nada de Naomi Watts pelada -, mesmo assim o filme é absolutamente perturbador e tenso. A cena do filho do casal com a espingarda já é antológica, assim como as conseqüências desse ato, tanto como a cena de sufocamento com o saco, "O jogo do gato no saco" que acaba por nos remeter ao seriado 24 Horas, e o sucesso nacional Tropa de Elite.



As interpretações naturais e fantásticas de todo o elenco - Em especial Naomi Watts, que eu adoro -, já justificariam um remake. Porém, a verdadeira idéia por traz do roteiro são o destaque dessa obra. Haneke tenta mostrar por varias vezes que a platéia é cúmplice da violência. E que em certos níveis estamos compactuando com os psicopatas em ação na tela, - Veja só, se você paga para ver um filme onde a violência e o tema principal... - mostrando que temos um desejo insano por tortura. E de certa forma mostrando que a agressividade se tornou uma parte da sociedade. E que fatos como morte de crianças pelos pais, assassinatos no trânsito, brigas em filas de supermercados se tornaram atos banais em uma brutalidade real do dia-a-dia.


O resultado e que você acaba se pegando como um voyeur na historia proposta por Haneke, participando dos “Jogos Divertidos” perpetrados pela dupla invasora. A grande surpresa do filme, e quando sem mais nem menos, os invasores começam a se dirigir a quem assiste ao filme, as vezes discretamente, as vezes deliberadamente, como se estivéssemos como cumprisses da carnificina. O cenário criado é de uma crueza sem limites e desprovido de efeitos. Ate a trilha sonora e dispensada para tornar a experiência mais real, a única utilização desse artifício, são nas cenas iniciais onde o diretor contrastando a música clássica com o nu metal, quase que prevendo a destruição que se abatera sobre a família.




Haneke tentou ao Maximo fugir dos clichês de Hollywood. A típica fórmula dos filmes de psicopatas dá lugar a uma experiência, em que o divertimento não faz parte da proposta. No fim resta à platéia torcer por uma punição merecida aos dois sádicos, a cada novo "jogo", Haneke aumenta esse desejo de vingança do espectador, esperando que esses tenham um destino igual ou pior do que o que teve a família, provando que precisamos tanto de violência quando os psicopatas invasores que estamos julgando. Para a felicidade dos cinéfilos, Haneke é um cineasta diferenciado e avesso ao lugar comum.

Em momento nenhum e nos dado alguma informação sobre quem são esses rapazes, por que estão lá, e qual e a razão desses jogos, o que leva a refletir, qual a verdadeira razão de qualquer ato violento? Seja ele de garotos mimados e riquinhos que atacam famílias desavisadas, ou mesmo de nerds renegados que acabam por descontar suas frustrações nos colegas e professores da escola.

Criando um roteiro simples e criativo que remexe fundo em várias feridas da sociedade, que questiona preconceitos e julga o espectador que é testado e provocado o tempo todo, - impostas pelo olhar cínico dos psicopatas para nós, a platéia. Destaque para a cena do controle remoto que deve dar - E vai da - um nó cego na cabeça de muito dos espectadores mais desavisados.
Violência Gratuita - Funny Games - é uma obra extremamente polêmica, que muitos irão amar e muitos outros mais vão odiar, mas que, graças, não deixa ninguém indiferente. Enfim: Shall We Begin?


curiosidades:

"-- Peter e Paul, os vilões de Violência Gratuita, gostam de referir a eles próprios como Tom e Jerry e às vezes como Beavis and Butt-Head.

-- As cores e os tons usados pelo diretor de arte Hinju Kim fazem diversas referências ao filme de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica.

-- A refilmagem norte-americana foi feita quadro a quadro de Violência Gratuita (1997). Repetindo nclusive os diálogos do roteiro.

-- A produção usou os mesmos objetos de cena do filme original de 1998. A casa construída para o filme de 2007 tem as mesmas proporções da primeir
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Confiram o trailer:

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